Eu tava caminhando por Barcelona um dia desses qualquer. Não me lembro
se fazia uma caminhada, a milésima tentativa de começar um exercício físico
regular ou tava indo de um lugar pra outro. Faz algum tempo, eu decidi que se o
trajeto demora meia hora ou menos, vou a pé ou de bicicleta. Não é o mesmo que
um exercício físico regular, mas, dá algum resultado ilusório. Vi um cartaz
pendurado num poste com algumas perguntas que também me incomodavam há algum
tempo: que pensar? Que desejar? Que fazer? Era uma exposição de arte
contemporânea, dessas que eu nunca quero muito ir porque, como diz uma amiga
minha: eu não alcanço... Resolvi ir com outra uma amiga, de bobeira, assim como
quem não quer nada. Tava perto de casa e era grátis. Muitos motivos juntos pra
ter alguma desculpa de não ir... O principal frenesi da sala era uma instalação
bem colorida. Fui chegando perto pra ver o nome do/a artista e pensei até que a
moça fosse tipo alemã ou austríaca: Rivane Neuenschwander. Que nada!!! A moça é de
Belzonte (Belo Horizonte). Opocevê... Pensei: Que bonito, gente!!! Estudou lá
na UFMG e expõe em Inhotim e coisa e tal. Chique! A instalação se chama: Eu
desejo o seu desejo (2003-2013) e está composta por cem mil fitinhas, estilo
senhor do Bonfim, onde a artista pediu pras pessoas escreverem seus desejos.
Cada desejo foi impresso nessas fitinhas e os visitantes podem escolher um
desses desejos e levar a fitinha pra casa ou botar no braço ou no tornozelo e
fazer aqueles três pedidozinhos. Dessa forma, o desejo de uma pessoa passa a
ser o desejo de outra também. É um mural enorme. Alguns desejos são engraçados,
tipo: “quero viajar numa bola de sabão”. Outros são reivindicativos de miss
universo: “quero a paz mundial”. Outros são super pessoais: “quero que meus
pais falem comigo”. O moço que toma conta desse mural veio zangar comigo, me
proibindo de tirar foto. Mas, foi bom que ele explicou que, como éramos duas
pessoas, o mais interessante seria fazer como um jogo e que eu escolhesse um
desejo pra minha amiga e ela, um pra mim. Assim, nos separamos e fomos cada uma
prum canto da parede, do lado oposto. Encontrei o desejo que eu queria pra ela
e vi que ela caminhava em minha direção com meu desejo escondido na mão. Mas,
eu vi. Era uma fitinha amarela, da mesma cor que a minha. Era o mesmo desejo: I
wish all my wishes would come true (sim, estava em inglês. Também
tinham outros em espanhol, catalão, português...). Olhei pra cara dela e ela
pra minha. Ficamos tão felizes que fomos contar pro moço que toma conta do
mural. Saímos dali acreditando em tudo e que tudo era possível. Sabíamos até o
que pensar, o que desejar o que fazer. É como que se os desejos que coincidem
fossem mais fortes...
http://obrasocial.lacaixa.es/nuestroscentros/caixaforumbarcelona/quepensarquedesearquehacer_es.html
(em espanhol)